O racismo segue sendo a principal forma de discriminação dentro das empresas, de acordo com um estudo realizado pela empresa CEGOS, sob encomenda da CNN Brasil, que revela que em 75% das companhias consultadas no Brasil a cor da pele e etnia ainda são levados em conta negativamente no ambiente de trabalho.
E não podemos dizer que esse é um tipo de prática que acontece longe dos olhos dos demais: o mesmo estudo indica que 82% dos entrevistados no mundo já testemunharam alguma forma de discriminação em seu local de trabalho.
Com a proximidade do Dia da Consciência Negra, essa discussão ganha mais voz. Mas como é possível que empregadores, empregados e empresas contribuam, de forma efetiva, para acabar com essa prática criminosa?
É o que nós vamos buscar debater no artigo de hoje. Continue conosco se você também deseja encontrar essa resposta.
Racismo estrutural: a discriminação enraizada
Ao iniciar a questão que envolve o racismo dentro do ambiente corporativo no Brasil, é preciso que seja feita uma rápida introdução em um assunto que permeia essa discussão: o racismo estrutural.
Discriminação racial é toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica. No entanto, nem sempre ela acontece de forma explícita ou evidente.
Quando observada no dia a dia, mesmo nos menores gestos e palavras, trata-se do produto de uma construção social e cultural histórica, a qual costuma se chamar de racismo estrutural. Sua perpetuação se dá com a reprodução de falas, discursos, práticas e atos, ainda que inconscientemente, seja na atualidade ou no desenvolvimento histórico.
Estudioso do assunto, o professor, jurista e filósofo Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural, conceitua bem o termo. Segundo ele, há uma “naturalização do racismo, como os impostos serem proporcionalmente maiores para mulheres negras (devido aos menores salários e a tributação por consumo), os maiores índices de feminicídio em mulheres negras, o alto número de assassinatos nas periferias de jovens negros, a ausência de pessoas negras em determinados espaços, como Congresso, tribunais, novelas, mesmo sabendo que mais de 50% das pessoas se declaram negras”. E isso deve ser combatido.
Recentemente, movimentos sociais denunciaram o país ao Comitê pela Eliminação da Discriminação Racial das Nações Unidas por não ter sido capaz de garantir os direitos humanos e as liberdades fundamentais da população negra.
Um dado usado para sustentar a tese envolve a violência letal contra mulheres negras: a taxa de assassinatos era 48,5% superior à de mulheres não negras e, em 2020, o índice subiu para 65,8%.
Além disso, também há movimentos contra o racismo na ciência, no mundo acadêmico e em uma série de segmentos da sociedade.
E no mercado de trabalho é onde se torna mais nítida essa discriminação, tema central da discussão deste artigo, e do qual falaremos agora.
O mercado de trabalho e as pessoas negras no Brasil
Dados recentes comprovam que as taxas de desemprego entre pretos e pardos seguem acima da média nacional, diferentemente da que é observada entre as pessoas brancas.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no país, referente ao 2º trimestre do ano, ficou em 9,3%. No entanto, entre pessoas brancas esse valor cai para 7,3%, abaixo da média nacional, enquanto a das pessoas pretas (11,3%) e pardas (10,8%) segue acima. Inclusive, 64,7% dos desempregados no país no segundo semestre de 2022 eram pretos ou pardos.
E conforme citamos há pouco, as razões para essas disparidades se encontram no racismo estrutural, segundo aponta o diretor do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), Daniel Teixeira em entrevista à CNN Brasil. “Ainda se tem uma imagem em relação às pessoas negras como aquelas que não estão aptas a exercer posições de liderança, chefia, comando e isso faz com que haja uma parada na ascensão desses profissionais, que é abreviada em relação às outras pessoas”, diz.
Um levantamento feito pelo portal Vagas.com ilustra de forma bastante didática a questão: apenas 5% dos cargos de liderança (gerência ou diretoria) no Brasil são ocupados por trabalhadores negros. Outro dado bastante recente que serve para explicitar a diferença que existe foi divulgado também pelo IBGE, nas chamadas Sínteses de Indicadores Sociais (SIS). Elas mostram que brancos ganham 73% a mais que negros.
Medo e a dificuldade para denunciar o racismo
Muito disso se perpetua por conta do medo que há em torno de realizar as denúncias envolvendo práticas racistas e discriminatórias no ambiente de trabalho.
Uma pesquisa realizada pela plataforma de vagas InfoJobs mostra que 39% dos respondentes já sofreram preconceito racial no trabalho. Porém, quando perguntados sobre o que fizeram após o episódio, 61% disseram que omitiram a situação, por receio de denunciar. Esse medo se justifica na mesma pesquisa. Afinal, em 48% dos casos, quem cometeu a discriminação foi alguém que ocupa uma posição de liderança na empresa.
Embora em grande parte dos casos a discriminação ocorra de forma mais velada, há diversas outras situações em que acontece explicitamente, como vivenciou a socióloga Izabel Accioly, 34. Ela contou em suas redes sociais ter sido excluída de um processo seletivo justamente pela cor de sua pele.
Ações e práticas para o combate do racismo no mercado de trabalho
Alterar este cenário de forma positiva depende de atitudes que partam diretamente das empresas. Isso deve ocorrer por meio da oferta de vagas com equilíbrio equitativo, um compromisso de reparação que deve estar diretamente atrelado às políticas organizacionais.
No entanto, mais do que um discurso, são necessárias ações efetivas. E como colocar em prática essa demanda? Segundo diversos especialistas do segmento, alguns passos podem contribuir de maneira significativa:
- Definir metas, prazos e indicadores sobre desigualdade racial;
- Fazer da inclusão um processo contínuo, para se tornar parte da cultura organizacional;
- Ensinar aos funcionários o que é racismo e como combatê-lo;
- Recrutar funcionários fora do seu círculo social;
- Criar políticas de inclusão dos colaboradores negros;
- Punir comportamentos racistas;
- Criar comitês para fomentar a diversidade;
- Investir na formação de lideranças negras;
- Estimular uma comunicação inclusiva;
- Apresentar métricas e resultados que envolvam a diversidade e inclusão social.
Inclusão de negros no mercado: diversidade melhora resultados
Conforme afirmamos há pouco, a diversidade e a inclusão de negros no mercado de trabalho contribuem diretamente com resultados positivos para as empresas.
Uma pesquisa da Harvard Business apontou que os conflitos são reduzidos em 50% em empresas que respeitam as diferenças — comparado a ambientes corporativos que não investem em diversidade. Outro fator positivo é o fato de que 17% dos colaboradores se sentem mais comprometidos, atendem demandas além das que lhe foram atribuídas, são ainda mais criativos e exploram seus potenciais, melhorando o clima organizacional.
Mas as vantagens também dizem respeito aos lucros da empresa que investe em diversidade e inclusão. Segundo a consultoria McKinsey & Company, essas companhias são 33% mais propensas a ter lucratividade acima da média, em relação às organizações que não têm qualquer ação afirmativa.
Também vale considerar o que diz a pesquisa realizada pela consultoria Exec, especializada em seleção e desenvolvimento de profissionais de gestão, diretoria, presidência e conselhos. Segundo o estudo, 67,6% dos líderes de empresas brasileiras dizem acreditar que ter diferentes perfis nas equipes contribui para atração e retenção de talentos.
Por tudo isso, é importante tornar mais séria a discussão que envolve o racismo no mercado de trabalho. Contribua com a inovação e seja você também um agente de transformação desse panorama.
A Runtalent, que incentiva e cultiva a diversidade em seu DNA, transforma negócios conectando pessoas e empresas, de forma a humanizar o segmento de TI. E por isso que somos comprometidos em criar um ambiente diversificado e nos orgulhamos por oferecer oportunidades igualitárias. Não fazemos distinção de raça, cor, orientação sexual, identidade de gênero, nacionalidade, idade ou deficiência, respeitando a individualidade na soma de diferentes tipos de culturas, vivências e perspectivas. Sempre de forma a construir ambientes mais acolhedores e inovadores, agregando muito valor ao nosso time
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